A política actual pauta-se pela existência de numerosas fórmulas abstractas, de teorias eleitorais, de cálculos, números e mais números.
Assim, os políticos contemporâneos aderiram entusiasticamente e (quase) acriticamente a esta moda do cientismo, dos comportamentos explicados pelo raciocínio lógico – sem espaço para aquilo que distingue, afinal, o ser humano: a imprevisibilidade.
Rudy Giuliani partiu para as eleições primárias republicanas como o mais plausível vencedor, apenas com a concorrência de McCain. De facto, a credibilidade e o capital de confiança político que obteve pela sua actuação como mayor de Nova Iorque, concatenando com o facto de assumir posições mais moderados em temas como a homossexualidade ou o aborto face aquilo que é o padrão tradicional do GOP, posicionaram-no como o mais apto para disputar a presidência dos EUA com o candidato democrata. Assim era.
Hoje, o cenário é diferente. Giuliani confiou na teoria segundo a qual o que importa é ganhar nos estados mais populosos, pois aí é que se elegem mais delegados. Logo, qual o interesse dos estados como Iowa ou Michigan? Nenhuma, segundo aquele candidato.
Creio que este é um tremendo equívoco.
Em política, mormente num processo dinâmico como as primárias norte – americanas, não há dados consumados nem fenómenos explicados exclusivamente à luz da matemática. É certo que Giuliani concentrou meios e esforços com vista à designada “ Super terça – feira”. É certo que em alguns estados a sua putativa base de apoio é maioritária. Porém, esqueceu-se de dois aspectos.
Em primeiro lugar, que numa campanha eleitoral o elemento simbólico pode vir a ser determinante. Ora, uma campanha como a de Giuliani assente no mínimo possível e no estritamente necessário para vencer, denota uma falta de ambição e de conformismo que dissuade o eleitorado republicano. Ao invés, uma campanha nos moldes da de McCain, que muitos profetizaram estar condenada ao fracasso e que abruptamente recupera e afirma-se, galvaniza e entusiasma. Imprime confiança.
Em segundo lugar, Giuliani ao descurar os actos eleitorais que se realizaram até ao momento, está a ceder espaço mediático aos seus adversários, nomeadamente a Mitt Romney e McCain. Este factor é decisivo – pense-se na influência das televisões numa sociedade fortemente mediatizada como a norte – americana.
Consequentemente, vimos nos últimos dias, Giuliani a conceder diversas entrevistas e a emitir inúmeras declarações não a explicar as suas ideias políticas, o seu projecto para os EUA – mas sim a (tentar!) clarificar e justificar a estratégia da sua campanha. Ora, esta é uma imagem que desgasta e mina qualquer veleidade de vitória…
Em suma, creio que Giuliani errou na avaliação e definição da sua acção política. Agora, terá que remar contra uma maré que lhe é cada vez mais desfavorável…
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
Segue - se o Michigan...
Hoje é a vez dos eleitores republicanos do Michingan (só, uma vez que a direcção do Partido democrata impediu este Estado de eleger qualquer delegado para a sua convenção nacional) se pronunciarem sobre qual é, na sua óptica, o melhor candidato para inverter a subida galopante da taxa de desemprego e os problemas económicos e sociais subsequentes.
Como se concluirá, nunca o tema da economia registou tanta relevância nas primárias como na campanha no Michigan. A priori, seria a oportunidade para Mitt Romney averbar uma vitória peremptória e, deste modo, colocar-se numa posição mais favorável para ser eleito o candidato republicano às eleições de Novembro. No entanto, como venho referindo neste blog, o antigo gestor (dizem que brilhante) é um político demasiado artificial, que não galvaniza, nem consegue fazer passar a sua mensagem política aos eleitores. Em Iowa, apostou muito - perdeu. Em New Hampshire, necessitava de vencer - perdeu. Aí vão duas derrotas... Se não vencer hoje, arrisco a afirmar que fica arredado da corrida presidencial. Aguardemos para ver...
Já John McCain, pelo seu passado, pela sua postura de seriedade, pela coragem, humildade e grande empatia com os eleitores afirma-se cada vez mais como o mais provável candidato republicano à White House. E, como se viu na campanha no Michigan, também aborda questões económicas com rigor e verdade (à atenção de Romney!).
Em suma, McCain is back - sem dúvida....
domingo, 13 de janeiro de 2008
Uma espécie de partido órfão
Os partidos políticos precisam de uma referência que lhes sirva de elemento matricial para a sua caracterização ideológica e inspiração para a actividade política. E o Partido Republicano tem – na na figura histórica de Ronald Reagan.
Considero inegável a influência e o papel determinante do actor californiano convertido em Presidente para a afirmação dos EUA no contexto do mundo bipolar resultante da designada Guerra Fria, bem como para a recuperação da moral americana e respectiva economia.
Com efeito, Reagan surgiu numa conjuntura particularmente favorável à execução da sua política, com a assunção da “ revolução conservadora, de que é, juntamente com Margaret Thatcher, principal protagonista. No campo da defesa, impulsionou o conhecido programa Guerra das Estrelas, destinado a acentuar a supremacia militar norte – americana face ao armamento soviético e manter o equilíbrio pelo terror. Já no âmbito económico, promoveu a reagonomics, programa de recuperação económica que consistia, fundamentalmente, na redução dos impostos e um ênfase cada vez mais vincado na iniciativa privada.
Numa segunda fase, a sua política de desanuviamento, coincidindo com a chegada de Kruschev ao Kremlin, teve repercussões extremamente importantes para a definição de uma nova ordem geopolítica, com o subsequente desmembramento da União Soviética.
Dito isto, e não obstante o seu papel fulcral, penso que Reagan é sobrevalorizado no GOP. É censurável que os candidatos republicanos citem amiúde o seu melhor presidente das últimas décadas? Com certeza que não. Contudo, a sistemática evocação de Reagan revela – nos o estado actual do Partido Republicano.
De facto, se atentarmos no último debate promovido pela FOX NEWS na Carolina do Sul, os candidatos republicanos dedicaram um parte considerável do mesmo a tentar provar quem era mais ou menos reaganiano. O caminho deveria (teria de) ser outro – discutir as questões relevantes para todos os americanos, com o objectivo de ir cativando progressivamente mais eleitores, sobretudo independentes. Não nos esqueçamos que os Republicanos partem em desvantagem em relação aos democratas, fruto do legado da Administração Bush. O debate deveria, pois, ser mais vocacionado para o exterior – e não tanto para as hostes do GOP.
Se prosseguirem no mesmo caminho, o partido Republicano só revela (ou confirma) uma realidade – a vacuidade de ideias e a incapacidade actual de gerar lideranças dinâmicas e carismáticas.
A questão essencial que todos os republicanos deveriam fazer seria: por que foi e é tão importante Ronald Reagan para o nosso partido? Resposta a que facilmente chegariam: porque soube revitalizar o partido, delinear as suas prioridades, marcar a ruptura com as presidências republicanas precedentes quer de Hoover, quer de Eisenhower, quer de Nixon. E usar o seu carisma para persuadir os americanos a aderirem ao seu projecto político, a terem esperança no futuro.
Era de um candidato assim que o Partido Republicano precisava – que citasse Reagan menos e o seguisse mais na acção política. Atendendo aos actuais candidatos, devo reconhecer que o cenário não é muito auspicioso…
Em suma, o GOP parece um partido órfão de um líder carismático e galvanizador. Entretanto, continua a afogar as suas mágoas citando Reagan… Até quando?
Considero inegável a influência e o papel determinante do actor californiano convertido em Presidente para a afirmação dos EUA no contexto do mundo bipolar resultante da designada Guerra Fria, bem como para a recuperação da moral americana e respectiva economia.
Com efeito, Reagan surgiu numa conjuntura particularmente favorável à execução da sua política, com a assunção da “ revolução conservadora, de que é, juntamente com Margaret Thatcher, principal protagonista. No campo da defesa, impulsionou o conhecido programa Guerra das Estrelas, destinado a acentuar a supremacia militar norte – americana face ao armamento soviético e manter o equilíbrio pelo terror. Já no âmbito económico, promoveu a reagonomics, programa de recuperação económica que consistia, fundamentalmente, na redução dos impostos e um ênfase cada vez mais vincado na iniciativa privada.
Numa segunda fase, a sua política de desanuviamento, coincidindo com a chegada de Kruschev ao Kremlin, teve repercussões extremamente importantes para a definição de uma nova ordem geopolítica, com o subsequente desmembramento da União Soviética.
Dito isto, e não obstante o seu papel fulcral, penso que Reagan é sobrevalorizado no GOP. É censurável que os candidatos republicanos citem amiúde o seu melhor presidente das últimas décadas? Com certeza que não. Contudo, a sistemática evocação de Reagan revela – nos o estado actual do Partido Republicano.
De facto, se atentarmos no último debate promovido pela FOX NEWS na Carolina do Sul, os candidatos republicanos dedicaram um parte considerável do mesmo a tentar provar quem era mais ou menos reaganiano. O caminho deveria (teria de) ser outro – discutir as questões relevantes para todos os americanos, com o objectivo de ir cativando progressivamente mais eleitores, sobretudo independentes. Não nos esqueçamos que os Republicanos partem em desvantagem em relação aos democratas, fruto do legado da Administração Bush. O debate deveria, pois, ser mais vocacionado para o exterior – e não tanto para as hostes do GOP.
Se prosseguirem no mesmo caminho, o partido Republicano só revela (ou confirma) uma realidade – a vacuidade de ideias e a incapacidade actual de gerar lideranças dinâmicas e carismáticas.
A questão essencial que todos os republicanos deveriam fazer seria: por que foi e é tão importante Ronald Reagan para o nosso partido? Resposta a que facilmente chegariam: porque soube revitalizar o partido, delinear as suas prioridades, marcar a ruptura com as presidências republicanas precedentes quer de Hoover, quer de Eisenhower, quer de Nixon. E usar o seu carisma para persuadir os americanos a aderirem ao seu projecto político, a terem esperança no futuro.
Era de um candidato assim que o Partido Republicano precisava – que citasse Reagan menos e o seguisse mais na acção política. Atendendo aos actuais candidatos, devo reconhecer que o cenário não é muito auspicioso…
Em suma, o GOP parece um partido órfão de um líder carismático e galvanizador. Entretanto, continua a afogar as suas mágoas citando Reagan… Até quando?
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
Apontamentos sobre a estratégia dos Clinton
Pode ler o texto em que analiso a vitória(inesperada) de Hillary em:
http://presidenciais2008.wordpress.com/2008/01/09/apontamentos-sobre-a-estrategia-dos-clinton/
http://presidenciais2008.wordpress.com/2008/01/09/apontamentos-sobre-a-estrategia-dos-clinton/
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Afinal, é mesmo verdade...
Já tinha neste blog referido que Hillary precisava de mudar de estratégia. Registei que a prória tinha reconhecido esse facto. O primeiro já aí está... Foi em New Hampshire. Numa sessão de esclarecimentos. Primeiro comentário: Mudança acertada? Mudança politicamente sensata? Não ... direi antes mudança bizarra! A diferença consiste no facto de Hillary em vez de se apresentar como uma mulher forte, rígida e intocável surge como uma mulher que também chora em público, sentimental. Tem lógica - se não consegue convencer os eleitores de New hampshire e cada vez menos os eleitores norte - americanos pela razão, tenta conquistá-los pelo coração! Fará doutrina?
vejam o vídeo e emocionem-se em :
http://www.cbsnews.com/stories/2008/01/07/politics/main3683445.shtml
vejam o vídeo e emocionem-se em :
http://www.cbsnews.com/stories/2008/01/07/politics/main3683445.shtml
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
New Hampshire - como será?
Pode ler artigo escrito por mim para o Observatório do ITD em:
http://presidenciais2008.wordpress.com/2008/01/07/new-hampshire-como-sera/
http://presidenciais2008.wordpress.com/2008/01/07/new-hampshire-como-sera/
Mitt Romney - o desastre continua...
Mitt Romney tem revelado uma prestação muito negativa na campanha eleitoral quer para o Iowa quer agora para New Hampshire. Prepara-se mal. Sente-se desconfortável com as suas constantes mudanças de opinião ao sabor das circunstâncias políticas que lhe são mais favoráveis, não as sabendo justificar convenientemente. Critica os adversários, depois suaviza as críticas e depois volta a endurecê-las. Sendo um candidato do aparelho, porquê tanto desconforto? Porquê tantos erros? Resultado: perdeu em Iowa e arrisca-se, depois de liderar nas sondagens, a perder New Hampshire (o que muito provavelmente irá suceder).
Romney vive na ilusão de que basta ser rico e ter fortunas para ganhar eleições. O dinheiro é importante - mas em política é preciso algo mais... Perceberá isso a tempo?
Veja o vídeo e tire as suas conclusões em:
Hillary - previsão confirmada...
E aí está! Tal como previsto, Hillary percebeu que terá de mudar de estratégia. Agora a questão fulcral é saber se não será tarde de mais. Perspectivo que amanhã será mais um dia lúgubre, triste para a sua candidatura - averbará mais uma derrota. Embora não signifique que Hillary esteja arredada da corrida (nada disso), não é um sinal muito favorável. O próprio estratega da candidatura já admitiu que se terá de rever a estratégia eleitoral...com parcimónia, para não dar a ideia de se estar em pânico (como aliás indicava o New Iork Post na capa da edição de hoje, colocando a imagem de Hillary juntamente com a palavra "Panic!" em grande destaque). Isto confirma o que eu já tinha avançado neste blog. Portanto, Hillary - há que reconhecê-lo - teve a lucidez e o bom senso de o entender. Resta agora saber como reagirá (sobretudo, depois da cada vez mais provável derrota de amanhã).
A este propósito, veja-se a notícia avançada pela CBS em:
http://www.cbsnews.com/stories/2008/01/04/politics/politico/main3674512.shtml
A este propósito, veja-se a notícia avançada pela CBS em:
http://www.cbsnews.com/stories/2008/01/04/politics/politico/main3674512.shtml
sábado, 5 de janeiro de 2008
A relação de forças entre Democratas e Republicanos
O legado da actual administração norte – americana dificilmente poderia ser mais trágico. Com efeito, os EUA confrontam-se actualmente com uma grave crise que urge suprir. O risco de recessão económica agravado pela crise do subprime, o protelamento sine die do fim da intervenção militar no Iraque com avultados custos financeiros e humanos, o fosso crescente entre os mais pobres e os mais ricos e o notório desprestígio internacional que enfrenta contribuem para gerar o descontentamento e o pessimismo dos norte – americanos em relação ao futuro. Preconizam que algo tem de mudar – e têm razão…
Ora, a realidade sociológica exposta repercute-se inexoravelmente na forma de actuação de ambos os partidos políticos. Estou, pois, em crer que a crise propicia um antagonismo mais acentuado entre democratas e republicanos.
Assim, os candidatos democratas apresentam, salvo algumas nuances não muito significativas, as mesmas propostas que assentam mormente no reforço do papel do Estado, com a institucionalização de um sistema de saúde universal, o aumento da carga tributária sobre os maiores rendimentos e a definição de um plano de retirada das tropas americanas do Iraque. Verifica-se, pois, um desvio do partido Democrata à esquerda do espectro partidário – sacrificando, desta forma, parte do centro. Por conseguinte, alguns Republicanos, como Mitt Romney, já criticaram os democratas por pretenderem enveredar por uma “via socialista europeia” para resolver os problemas que assolam a América.
Já os Republicanos, recorrem aos temas emblemáticos dos conservadores, assumindo posições radicais em questões cruciais como a segurança interna e externa e na relação (sempre complexa de gerir) entre a política e a religião. Mesmo os mais liberais, como Mitt Romney e Ron Paul, têm preconizado medidas extremamente rígidas para solucionarem a guerra ao terrorismo (lançando o conceito de nova Jihad) e o flagelo da imigração ilegal (propondo a construção de um murro de separação na fronteira com o México). Quanto aos mais moderados, como Mccain ou Giuliani, não destoam do quadro geral republicano – embora mais contidos, as suas propostas não diferem muito das anteriores. O que distingue estes dois candidatos é a sua pretensão de tentarem conciliar o eleitorado mais conservador (mais à direita) com uma parte do centro (centro – direita). Daí que Giuliani e (sobretudo) Mccain aparentarem que não têm convicções muito fortes – o que justifica parcialmente as suas campanhas lúgubres, insípidas, apáticas. Não entusiasmam – mas também não desafiam a manutenção do status quo. E, como penso que existe o sentimento no Partido republicano que a derrota é inevitável, ao menos que seja pela menor diferença possível…
Em suma, perspectivo que, mantendo-se as actuais circunstâncias, os democratas irão capitalizar o descontentamento dos norte – americanos com o seu discurso mais à esquerda – porque é o mais diferente do discurso da actual Administração. Os Republicanos dão a ideia de ser mais do mesmo, de continuidade da actual política. E isso os americanos não querem (parece!) …
Ora, a realidade sociológica exposta repercute-se inexoravelmente na forma de actuação de ambos os partidos políticos. Estou, pois, em crer que a crise propicia um antagonismo mais acentuado entre democratas e republicanos.
Assim, os candidatos democratas apresentam, salvo algumas nuances não muito significativas, as mesmas propostas que assentam mormente no reforço do papel do Estado, com a institucionalização de um sistema de saúde universal, o aumento da carga tributária sobre os maiores rendimentos e a definição de um plano de retirada das tropas americanas do Iraque. Verifica-se, pois, um desvio do partido Democrata à esquerda do espectro partidário – sacrificando, desta forma, parte do centro. Por conseguinte, alguns Republicanos, como Mitt Romney, já criticaram os democratas por pretenderem enveredar por uma “via socialista europeia” para resolver os problemas que assolam a América.
Já os Republicanos, recorrem aos temas emblemáticos dos conservadores, assumindo posições radicais em questões cruciais como a segurança interna e externa e na relação (sempre complexa de gerir) entre a política e a religião. Mesmo os mais liberais, como Mitt Romney e Ron Paul, têm preconizado medidas extremamente rígidas para solucionarem a guerra ao terrorismo (lançando o conceito de nova Jihad) e o flagelo da imigração ilegal (propondo a construção de um murro de separação na fronteira com o México). Quanto aos mais moderados, como Mccain ou Giuliani, não destoam do quadro geral republicano – embora mais contidos, as suas propostas não diferem muito das anteriores. O que distingue estes dois candidatos é a sua pretensão de tentarem conciliar o eleitorado mais conservador (mais à direita) com uma parte do centro (centro – direita). Daí que Giuliani e (sobretudo) Mccain aparentarem que não têm convicções muito fortes – o que justifica parcialmente as suas campanhas lúgubres, insípidas, apáticas. Não entusiasmam – mas também não desafiam a manutenção do status quo. E, como penso que existe o sentimento no Partido republicano que a derrota é inevitável, ao menos que seja pela menor diferença possível…
Em suma, perspectivo que, mantendo-se as actuais circunstâncias, os democratas irão capitalizar o descontentamento dos norte – americanos com o seu discurso mais à esquerda – porque é o mais diferente do discurso da actual Administração. Os Republicanos dão a ideia de ser mais do mesmo, de continuidade da actual política. E isso os americanos não querem (parece!) …
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
Hillary II
O meu comentário anterior suscitou alguns reparos por parte dos visitantes deste blog - o que me apraz visto contribuir para o salutar debate democrático.
No entanto, convém clarificar dois pontos:
No entanto, convém clarificar dois pontos:
- Mantenho (por ora) a convicção de que Hillary Clinton irá vencer a eleição democrata a nível nacional, embora por uma margem curta. Penso, por outro lado, que terá de rever a sua estratégia eleitoral - o que começará já a fazer, estou certo, nas primárias de New Hampshire;
- Evidentemente que Iowa não é representativo da realidade nacional - seria imprudente tal asserção e uma extrapolação politicamente insensata. O que referi (e reitero) é que do ponto de vista da mobilização e do elã que a vitória no Iowa caucus confere a quem a vence, foi um péssimo começo para Hillary (as últimas sondagens antes da votação colocavam-na em primeiro lugar, seguida por Edwards). Mas, certamente, tudo está em aberto... Veremos as próximas incidências...
Uma desilusão chamada Hillary
Se Huckabee surpreendeu pela positiva, Hillary Clinton revelou-se a maior desilusão da noite de ontem. Devo confessar que já antevia a sua derrota no Iowa caucus, mas nunca de forma tão clamorosa.
A candidata democrata iniciou a sua campanha convencida de que tinha uma aura de invencibilidade e que o seu apelido e passado eram condições suficientes para atingir o seu fito. Puro engano. Creio, aliás, que a carreira política um tanto ou quanto titubeante da senadora de Nova Iorque e o tão falado nome associado a um ciclo já fechado da vida política americana (memorável, mas já pertencendo ao passado) serão um óbice - não uma vantagem, como muitos julgarão. Porquê? Fácil. Atentemos no discurso proferido no rescaldo dos resultados do caucus da noite anterior - Hillary Clinton surge ladeada por Bill Clinton e Madeleine Albright. Serão eles o futuro do Partido Democrata? Não - o primeiro poderá simbolizar o período áureo da história recente do partido e a ascensão do designado new democrat, mas os retrocessos na história são sempre penosos para quem os efectua, pelo que Bill não é uma opção válida para ocupar de novo cargos políticos. Já Madeleineine Albright, Secretária de Estado no tempo do consulado de Bill Clinton (não saimos disto!...), teve um papel importante, mas não é um valor para o futuro. Desta forma, temos uma candidatura atávica, que não transmite confiança nem entusiasma os eleitores democratas.
Por outro lado, algumas posições tomadas por Hilarry(v.g sobre a intervenção militar no Iraque) ou propostas políticas não muito bem sucedidas (rejeição da proposta de implementação do sistema de saúde universal) no passado são handicaps difíceis de superar. Junte-se a este cenário já complicado para Clinton, o facto de existirem nos EUA sectores que lhe são radicalmente adversos (vide a este propósito a biografia de Bernestein, jornalista do New Iork Times ).
Na minha perspectiva, o discurso de Hillary no rescaldo eleitoral de ontem é sintomático do que tem sido a sua campanha: pouco (ou nada) mobilizador e aqui e a ali a roçar a prepotência.
Em suma, Hillary terá que repensar a sua estratégia eleitoral a muito breve trecho - e abandonar a ideia masoquista (quem terá sido o iluminado que sugeriu tal opção? Terá sido a própria?) de lançar ataques pessoais a Barack Obama. Se prosseguir na mesma toada, Hillary vai pagar caro. Em Iowa, já pagou. É assim, em política, não há mesmo almoços grátis...
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
REsultados eleitorais
Pode consultar os resultados do Iowa caucus em: http://presidenciais2008.wordpress.com/
Um site a consultar pela diversidade e qualidade da informação veiculada. A não perder...
Um site a consultar pela diversidade e qualidade da informação veiculada. A não perder...
Mick Huckabee - o grande vencedor
Esta noite revelou-se fascinante para uns e um estrondoso desastre para outros. Começo por analisar o resultado do candidato que considero ter sido o grande vencedor do Iowa Caucus - Mick Huckabee. Quem é Mick Huckabee? - é compreensível que se interroguem: o candidato em causa era, até há bem pouco tempo, um figura de plano secundário no seio do Partido Republicano. Recorde-se que as atenções estiveram concentradas durante muito tempo nos dois então mais prováveis vencedores da disputa eleitoral republicana: Rudolph Giuliani e John MaCain.
Ora, regressando ao Governador do Arkansas, há que reconhecer o seu mérito na definição de uma estratégia política que mais vai ao encontro das expectativas e aspirações do eleitorado do GOP, o qual é constituído essencialmente por conservadores e liberais. Neste sentido, Mick Huckabee fez aquilo que seria o mais lógico e eleitoralmente eficaz - envergar com vigor a bandeira dos valores e apelar a Deus, obtendo o apoio (fundamental) dos cristãos evangélicos. O sucesso desta estratégia aumentou consideravelmente ao longo da campanha, à medida que sucediam os erros clamorosos cometidos pelos seus adversários. Senão, repare:
Ora, regressando ao Governador do Arkansas, há que reconhecer o seu mérito na definição de uma estratégia política que mais vai ao encontro das expectativas e aspirações do eleitorado do GOP, o qual é constituído essencialmente por conservadores e liberais. Neste sentido, Mick Huckabee fez aquilo que seria o mais lógico e eleitoralmente eficaz - envergar com vigor a bandeira dos valores e apelar a Deus, obtendo o apoio (fundamental) dos cristãos evangélicos. O sucesso desta estratégia aumentou consideravelmente ao longo da campanha, à medida que sucediam os erros clamorosos cometidos pelos seus adversários. Senão, repare:
- Rudolph Giuliani apresentou-se, sem rodeios ou tergiversações, como um republicano atípico - filho de imigrantes italianos (o tio esteve ligado à máfia), preconiza a legalização do aborto, cometeu adultério repetidamente e defendeu os direitos dos homossexuais, escandalizando os evangélicos - um presente para Huckabee, que proclamando o seu passado como pastor baptista, conquistou o apoio do grupo de apoio mais significativo do Partido Republicano;
- o multimilionário Mitt Romney (porventura o que mais apostou na vitória no Iowa) caiu infantilmente na cilada do candidato do Arkansas: Romney, enquanto governador de Massachussets, assumiu posições mais progressitas, como a legalização do aborto e o reconhecimento dos direitos dos homossexuais. Ora, na campanha para o Iowa Caucus, pressionado por Huckabee, ficou incomodado, começou a ver a derrota iminente e perdeu a lucidez política que ainda lhe restava. Os seus discursos passaram a versar sobre o seu amor incomparável e inigualável a Deus(!), deixando as suas palavras transparecer um artificialismo constrangedor (talvez patético!) - deixando o caminho livre para Huckabee ganhar. E ganhou.
Não se infira, no entanto, que ocorreu uma inversão total do cenário mais provável a nível nacional - a vitória de Giuliani. Ainda estamos numa fase muito precoce para fazer tal afirmação. Recorde-se que o Iowa Caucus , sendo importante, não é decisiva. Pense-se, por exemplo, em Ronald Reagan ou Bill Clinton - a derrota em Iowa não os impediu de alcançarem a vitória a nível nacional.
Voltaremos à figura e ao discurso de Huckbee numa próxima oportunidade. Afinal de contas, estamos apenas a começar...
Desafio Curioso
Acabo de ver na Skynews uma forma assaz invulgar e interessante de imprimir uma nova dinâmica ao jornalismo político.
Numa sala da Universidade de Iowa, reuniu-se um grupo de pessoas, abrangendo as diferentes faixas etárias, apresentou-se-lhes vídeos das candidaturas de ambos os partidos e analisou-se a sua reacção. No final, foi possível extrair algumas ilações, salvaguardando, naturalmente o facto de a amostra ser pouco representativa. Assim:
Numa sala da Universidade de Iowa, reuniu-se um grupo de pessoas, abrangendo as diferentes faixas etárias, apresentou-se-lhes vídeos das candidaturas de ambos os partidos e analisou-se a sua reacção. No final, foi possível extrair algumas ilações, salvaguardando, naturalmente o facto de a amostra ser pouco representativa. Assim:
- Tendência para um claro predomínio do GOP(Grand Old Party - Partido Republicano) nas intenções de voto do eleitorado mais envelhecido - não surpreende;
- Eleitorado feminino propende para votar num candidato do Partido Democrata - compreende-se;
- Candidato democrata(e não só!) que suscita reacção mais favorável nos jovens e eleitorado feminino - Barack Obama!!
A última conclusão não deixa de surpreender, tanto mais que Obama seria eleito Presidente dos EUA por aquela exígua amostra, terminando o programa com uma declaração absolutamente laudatória ao candidato afro - americano. Será um sinal?
Iowa caucus - eleições com características peculiares
O iowa caucus apresenta algumas características que permitem diferenciá-la das eleições primárias ocorridas nos estados remanescentes. Com efeito, este constitui (na perspectiva de diversos analistas) um resquício de democracia directa, na esteira do legado da Grécia clássica, na medida em que os eleitores se reúnem num determinado local, geralmente um estabelecimento de ensino, em detrimento do sistema usual do boletim de voto secreto. Ademais, os eleitores intervêm directamente na elaboração das plataformas eleitorais dos respectivos partidos, apresentando propostas.
Os procedimentos variam em função do partido - enquanto que no Partido Republicano é actualmente mais linear(mais em consonância com o arquétipo matricial das primárias, sendo concedido a cada eleitorar um boletim em branco, onde devem escrever o nome do candidato em que votam), no Partido Democrata é mais complexo. Aqui os eleitores agrupam-se em função do candidato da sua preferência, podendo durante a eleição atrair elementos de grupos adversários. Os candidatos que obtiverem um número inferior a 15% do total de delegados a eleger, não podem prosseguir a sua corrida rumo (pelo menos, assim o desejam) à White House.
Note-se, ainda, que no caucus são eleitos os delegados das county para a Convenção estatal - aí é que são designados os delegados para a Convenção Nacional. No entanto, o caucus é o momento mais importanto, porquanto se assemelha inverosímil uma mudança significativa nas preferências dos delegados eleitos.
Concluindo, o Iowa caucus tem sido, historicamente, o primeiro grande momento das eleições presidenciais norte -americanas. Hoje, dia 3 de Janeiro de 2008, a tradição é cumprida.
Os procedimentos variam em função do partido - enquanto que no Partido Republicano é actualmente mais linear(mais em consonância com o arquétipo matricial das primárias, sendo concedido a cada eleitorar um boletim em branco, onde devem escrever o nome do candidato em que votam), no Partido Democrata é mais complexo. Aqui os eleitores agrupam-se em função do candidato da sua preferência, podendo durante a eleição atrair elementos de grupos adversários. Os candidatos que obtiverem um número inferior a 15% do total de delegados a eleger, não podem prosseguir a sua corrida rumo (pelo menos, assim o desejam) à White House.
Note-se, ainda, que no caucus são eleitos os delegados das county para a Convenção estatal - aí é que são designados os delegados para a Convenção Nacional. No entanto, o caucus é o momento mais importanto, porquanto se assemelha inverosímil uma mudança significativa nas preferências dos delegados eleitos.
Concluindo, o Iowa caucus tem sido, historicamente, o primeiro grande momento das eleições presidenciais norte -americanas. Hoje, dia 3 de Janeiro de 2008, a tradição é cumprida.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Primárias: o que são?
Em primeiro lugar, importa clarificar o que representam as eleições primárias. Ora, estas realizam-se com o fito de determinar o candidato proposto por cada partido. A forma de designação diverge de estado para estado. Assim, podemos verificar um sistema designado por open primary em que é atribuído o direito de voto a todos os cidadãos, inclusive aos que não dispõem de filiação partidária, recebendo cada um dos inscritos um boletim (primary ballot) correspondente aos partidos com maior dimensão. Subsequentemente, efectuam uma escolha pessoal sobre em que eleição pretendem intervir - se na eleição do candidato democrata, se na designação do candidato republicano (é o que se verifica nos estados de Wisconsin, Montana, entre outros). Por outro lado, certos estados adoptaram o método das closed primary em que cada eleitor inscrito tem de declarar a sua filiação ou preferência partidária e recebe somente o boletim correspondente a esse partido (alguns cientistas políticos norte - americanos designam, igualmente, este sistema por open primary, visto que os eleitores apenas declaram a sua militância partidária após a inscrição nos cadernos eleitorais - discordamos, porém, desta orientação).Em 1934, um grupo de cidadãos de Washington pleiteou para que fosse instaurado o método das blanket primary , que permitia que todos os cidadãos votassem no candidato que pretendessem em ambos os partidos, sem declararem a sua adesão partidária ou ideologia política para que propendiam. Volvidos alguns anos, o estado da Califórnia acolheu este método de eleição. Porém, o Supremo Tribunal dos EUA declarou esta deliberação inconstitucional, constatando-se um regresso ao closed primary por parte do estado em causa.Uma vez realizadas as eleições primárias em todos os Estados, os partidos organizam as suas Convenções nacionais, nas quais os candidatos são oficializados. Como facilmente se infere, o candidato que eleger maior número de delegados nas primárias, será o candidato a Presidente apoiado pelo respectivo partido (daí que alguns candidatos recorram a um raciocínio aritmético para não concorrem nos estados menos populosos e concentrarem os seus esforços nos mais populosos).
terça-feira, 1 de janeiro de 2008
Eleições Presidenciais Americanas 2008
Hoje, dia 1 de Janeiro de 2008 - inicia-se um novo ano, inicia-se a intervenção do presente blog na análise e destrinça das eleições presidenciais americanas. Estas representam um momento crucial para a definição do rumo que o mundo irá tomar nas próximas décadas. A nós, portugueses e europeus, o veredicto das eleições não é uma questão de somenos - vivemos numa era de globalização e os factos políticos mais relevantes da maior potência mundial não devem (não podem) ser indiferentes à vida de todos e de cada um e nós. Sejam benvindos...
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