sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Uma desilusão chamada Hillary


Se Huckabee surpreendeu pela positiva, Hillary Clinton revelou-se a maior desilusão da noite de ontem. Devo confessar que já antevia a sua derrota no Iowa caucus, mas nunca de forma tão clamorosa.


A candidata democrata iniciou a sua campanha convencida de que tinha uma aura de invencibilidade e que o seu apelido e passado eram condições suficientes para atingir o seu fito. Puro engano. Creio, aliás, que a carreira política um tanto ou quanto titubeante da senadora de Nova Iorque e o tão falado nome associado a um ciclo já fechado da vida política americana (memorável, mas já pertencendo ao passado) serão um óbice - não uma vantagem, como muitos julgarão. Porquê? Fácil. Atentemos no discurso proferido no rescaldo dos resultados do caucus da noite anterior - Hillary Clinton surge ladeada por Bill Clinton e Madeleine Albright. Serão eles o futuro do Partido Democrata? Não - o primeiro poderá simbolizar o período áureo da história recente do partido e a ascensão do designado new democrat, mas os retrocessos na história são sempre penosos para quem os efectua, pelo que Bill não é uma opção válida para ocupar de novo cargos políticos. Já Madeleineine Albright, Secretária de Estado no tempo do consulado de Bill Clinton (não saimos disto!...), teve um papel importante, mas não é um valor para o futuro. Desta forma, temos uma candidatura atávica, que não transmite confiança nem entusiasma os eleitores democratas.


Por outro lado, algumas posições tomadas por Hilarry(v.g sobre a intervenção militar no Iraque) ou propostas políticas não muito bem sucedidas (rejeição da proposta de implementação do sistema de saúde universal) no passado são handicaps difíceis de superar. Junte-se a este cenário já complicado para Clinton, o facto de existirem nos EUA sectores que lhe são radicalmente adversos (vide a este propósito a biografia de Bernestein, jornalista do New Iork Times ).


Na minha perspectiva, o discurso de Hillary no rescaldo eleitoral de ontem é sintomático do que tem sido a sua campanha: pouco (ou nada) mobilizador e aqui e a ali a roçar a prepotência.

Em suma, Hillary terá que repensar a sua estratégia eleitoral a muito breve trecho - e abandonar a ideia masoquista (quem terá sido o iluminado que sugeriu tal opção? Terá sido a própria?) de lançar ataques pessoais a Barack Obama. Se prosseguir na mesma toada, Hillary vai pagar caro. Em Iowa, já pagou. É assim, em política, não há mesmo almoços grátis...




Um comentário:

Convento da Alma disse...

De facto não há almoços grátis mas Hillary tem as coisas controladas. Não tem mal perder no Iowa, vários candidatos que se elegeram Perderam no Iowa, uns de forma mais significativa que outros, é certo.
Esta derrota estava prevista e mais que contabilizada, não sendo este estado um espelho do eleitorado americano, pelas suas diversas especificidades: percentagem de população branca superior à média, muito rural (agricola).
Hillary soma no total, e em sondagens, mais 21% de intenções de voto que qualquer outro candidato. Acredito que na noite de todas as verdades essa margem seja menor, e até pondero que ela possa não chegar lá mas só se acontecer algo muito inesperado até ao final das primárias, porque de contrário...