O legado da actual administração norte – americana dificilmente poderia ser mais trágico. Com efeito, os EUA confrontam-se actualmente com uma grave crise que urge suprir. O risco de recessão económica agravado pela crise do subprime, o protelamento sine die do fim da intervenção militar no Iraque com avultados custos financeiros e humanos, o fosso crescente entre os mais pobres e os mais ricos e o notório desprestígio internacional que enfrenta contribuem para gerar o descontentamento e o pessimismo dos norte – americanos em relação ao futuro. Preconizam que algo tem de mudar – e têm razão…
Ora, a realidade sociológica exposta repercute-se inexoravelmente na forma de actuação de ambos os partidos políticos. Estou, pois, em crer que a crise propicia um antagonismo mais acentuado entre democratas e republicanos.
Assim, os candidatos democratas apresentam, salvo algumas nuances não muito significativas, as mesmas propostas que assentam mormente no reforço do papel do Estado, com a institucionalização de um sistema de saúde universal, o aumento da carga tributária sobre os maiores rendimentos e a definição de um plano de retirada das tropas americanas do Iraque. Verifica-se, pois, um desvio do partido Democrata à esquerda do espectro partidário – sacrificando, desta forma, parte do centro. Por conseguinte, alguns Republicanos, como Mitt Romney, já criticaram os democratas por pretenderem enveredar por uma “via socialista europeia” para resolver os problemas que assolam a América.
Já os Republicanos, recorrem aos temas emblemáticos dos conservadores, assumindo posições radicais em questões cruciais como a segurança interna e externa e na relação (sempre complexa de gerir) entre a política e a religião. Mesmo os mais liberais, como Mitt Romney e Ron Paul, têm preconizado medidas extremamente rígidas para solucionarem a guerra ao terrorismo (lançando o conceito de nova Jihad) e o flagelo da imigração ilegal (propondo a construção de um murro de separação na fronteira com o México). Quanto aos mais moderados, como Mccain ou Giuliani, não destoam do quadro geral republicano – embora mais contidos, as suas propostas não diferem muito das anteriores. O que distingue estes dois candidatos é a sua pretensão de tentarem conciliar o eleitorado mais conservador (mais à direita) com uma parte do centro (centro – direita). Daí que Giuliani e (sobretudo) Mccain aparentarem que não têm convicções muito fortes – o que justifica parcialmente as suas campanhas lúgubres, insípidas, apáticas. Não entusiasmam – mas também não desafiam a manutenção do status quo. E, como penso que existe o sentimento no Partido republicano que a derrota é inevitável, ao menos que seja pela menor diferença possível…
Em suma, perspectivo que, mantendo-se as actuais circunstâncias, os democratas irão capitalizar o descontentamento dos norte – americanos com o seu discurso mais à esquerda – porque é o mais diferente do discurso da actual Administração. Os Republicanos dão a ideia de ser mais do mesmo, de continuidade da actual política. E isso os americanos não querem (parece!) …
sábado, 5 de janeiro de 2008
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Um comentário:
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